Vem o dia surgindo preguiçoso A claridade empurrando as brumas Que ainda cobrem a montanha. Foge a noite com seu manto Para um lugar indefinido. Fazendo abrir as flores sonolentas Que ainda sugam o néctar coletado Nas gotas de orvalho Da madrugada fria. A lua num gesto de orgulho Reluta em ceder seu lugar ao sol. Vem a brisa... Percorre a superfície de seda do lago Eriçando as pequenas ondas Sopra suavemente, causando arrepios Na copa das árvores. E no seu ímpeto de espalhar o amor Cria movimento. Acorda o mundo. Faz tremular a chama da vela Na cabana do pescador. É hora de despertar. Vem Amanhecer ! vem Brisa ! Juntos criem a vida Façam a poesia acontecer.
Se o silêncio fosse dádiva As pedras seriam filósofos O mar que eloquente seria Os rios no alarido das corredeiras Gritariam ao mundo seu rumo Se o silêncio tivesse significado Num momento seria abstrato Noutro ainda elíptico Um tom de dor Talvez apenas um murmúrio de paz Ah! se o silêncio tivesse cor Seria azul nos momentos calmos Verde quando a esperança surgisse Branco quando de sua ausência Se o silêncio tivesse odor Um cheiro de mato na noite fria Essência de rosas no seu dormir Um que de jasmim na despedida Mas o silêncio é muito mais É espera no tempo O não intervir do momento Imaginar a saudade Falar sem dizer Ouvir o que não foi dito E calar Quando nada mais Há para se dizer